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O Segredo de Abraão

A Entrada da Maldição


A história de Abraão é importantíssima para compreendermos a mente e a presciência de Deus. Por meio dela, podemos ver o desenrolar da história da humanidade e o plano para que, de muitos povos, procedam os filhos de Deus. É por isso que este estudo se chama “O Mistério de Abraão”. Nas promessas que Deus fez a Abrão, seu nome inicial, podemos ver a salvação de todos aqueles que seriam salvos por meio de Jesus Cristo.


A primeira coisa que devemos compreender é que Deus fez todas as coisas boas e que toda a sua criação era perfeita, visto que tudo estava em conformidade com a sua vontade. A harmonia entre todas as coisas convergia perfeitamente, tanto as coisas do céu quanto as da terra, porque está escrito sobre a criação:


(31) Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia. (Gênesis 1:31)


Toda a criação de Deus era “muito boa”. A expressão para “boa” no contexto original hebraico era a palavra “Tov” (טוב), que, em sua forma de escrita original, com caracteres pictográficos que são anteriores ao hebraico arcaico (desenvolvido por volta de 1900 a.C.), revela algumas coisas interessantes. Cada letra, que na verdade são símbolos, traz um sentido profundo. A letra “Tav”, a primeira da palavra “Tov”, era representada por uma cruz, que na época era o símbolo de uma aliança. Em seguida, temos a letra “Vav”, que representa pregos ou estacas, e por fim a letra “Beit”, que era literalmente representada por uma tenda, significando uma moradia, uma casa, etc. Podemos dizer, então, que, quando Deus estabeleceu sua criação e a chamou de “muito bom”, na verdade estava criando uma casa, fincada com uma estaca firme, e tudo isso apontava para a cruz de Cristo, o “Tav”. Este é o motivo de Jesus dizer: “Eu sou o Alfa e o Ômega” ou, no hebraico, “Eu sou o Alef, eu sou o Tav”.


Você pode conferir todos esses significados em “Ancient Hebrew Lexicon of The Bible - Benner, Jeff A”.


Desde o princípio, Deus desejava edificar uma morada para si. Quando, no sexto dia, terminou todas as coisas, chamou sua criação de “sua tenda”, uma habitação para estar entre os filhos dos homens. Ao criar Eva, a mãe de toda a humanidade, o Espírito inspirou Moisés com a seguinte descrição:


(21) Então, o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. (22) E a costela que o Senhor Deus tomara do homem, edificou numa mulher e lha trouxe. (23) E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. (Gênesis 2:21-23)


Eva foi literalmente edificada como uma casa para Deus, pois o desejo d'Ele sempre foi habitar entre os homens. Mas quando digo "entre os homens", refiro-me a habitar no próprio homem, no centro do seu coração. Está escrito:


2 Coríntios 6:16 (16) Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como Deus disse: "Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo."


Quando o texto diz “habitarei entre eles”, mesmo que pareça que fala de habitar no meio do povo, devemos entender que o texto está dizendo que Deus habitaria no centro do seu povo, mas também no centro do homem, no mais profundo do seu ser, no oculto do seu coração, ou seja, no Santo dos Santos do próprio homem. Assim como o tabernáculo de Moisés era uma habitação móvel que peregrinava pelo deserto, guiada pela coluna de nuvem, hoje Deus nos faz tabernáculos móveis que peregrinam neste mundo. Do mesmo modo que a coluna de nuvem habitava e se manifestava guiando o tabernáculo, hoje o Espírito guia nosso tabernáculo, e para onde Ele nos guia, nós também iremos. Cristo nos fala disso quando diz a Nicodemos:


(8) O Espírito sopra onde quer; ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito. (João 3:8)


Assim, todos os nascidos do Espírito são guiados por Ele, pois o Espírito nos dá a direção nesta imensidão do deserto em que vivemos. Esperamos para sermos introduzidos na verdadeira herança, que se manifestará quando Jesus se revelar em glória para aqueles que o esperam.


Note, no entanto, que Paulo diz: "Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos?". Ora, Paulo diz isso porque, após a queda, a maldição entrou no mundo e a habitação de Deus, formada em Eva, tornou-se a habitação de toda espécie de pecado e impureza espiritual. Deus, que deveria ser o habitante do coração do homem, afastou-se, porque não pode estar onde o pecado habita. E assim, todos os homens que são conforme o Adão terreno passaram a ser a habitação de ídolos e demônios. Se no princípio toda a criação era boa e Deus fez do homem uma casa para si, depois da queda a maldição passou a habitar no homem e toda a terra ficou debaixo de maldição, porque também está escrito:


(17) E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. (18) Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. (Gênesis 3:17-19)


Note que, quando Deus diz "Maldita é a terra por tua causa", Ele não falava somente da terra, mas também do homem. A palavra hebraica para "terra" ou "solo" é "Adamah", que é cognata de "Adam" (Adão). A terra passou a ser um espelho do que Adão se tornou. Do mesmo modo que a terra passou a produzir cardos e abrolhos, o homem passou a produzir em seu coração todo tipo de pecado. Ambos, o homem e a terra, ficaram debaixo da maldição.


A morte passou a reinar sobre a humanidade, e a terra abriu sua boca para deleitar-se da carne e do sangue dos homens, como está escrito:


(19) No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás. (Gênesis 3:19)


E diz mais:


(13) Assim diz o Senhor Deus: Porquanto dizem de ti: Tu és uma terra que devora os homens, e és uma terra que mata os seus próprios moradores, (Ezequiel 36:13)


Sobre a serpente, está escrito:


(14) Então, o Senhor Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. (Gênesis 3:14)


Observe que Ele diz: "Maldita és tu entre todos os animais", indicando que a serpente está debaixo de maldição. Em seguida, Ele acrescenta: "comerás o pó todos os dias da tua vida". Não vemos nenhuma serpente se alimentando de pó, mas este "pó" representa a morte do homem, pois o propósito do diabo é assassinar os homens e alimentar-se de seu pó. Esta é, obviamente, uma linguagem figurativa sobre o império da morte edificado pelo diabo.


A Condenação e a Escravidão do Pecado

No princípio, todas as coisas eram boas, mas após a queda, tudo, inclusive o homem, se tornou amaldiçoado. O destino do homem é a habitação dos mortos, o Sheol, o "eterno mendigo" que constantemente busca a vida e o sangue dos homens e que, por meio do pecado, os aprisiona para se alimentar de sua morte.


Todos aqueles que estão sob a maldição permanecerão sob o poder da morte e, no dia do Juízo, irão para a condenação, pois o peso do pecado estará sobre eles. Sobre estes, está escrito:


(41) Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. (Mateus 25:41)


Devemos entender que a maldição significa morte e condenação. Pela mentira, obra do diabo, os homens foram escravizados, vendidos ao pecado e tornaram-se servos da injustiça:


(14) Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, porém, sou carnal, vendido sob o pecado. (Romanos 7:14)


Todos os homens que estão debaixo da maldição fazem do pecado o seu senhor, a ponto de ele dominar toda a sua vida, usando seus membros para a injustiça. Quando cumprimos a lei do pecado, obedecemos a suas ordens como servos a seu senhor e, assim, receberemos com juros o salário do pecado, a morte eterna, a segunda morte, porque está escrito:


(23) Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 6:23)


Deus pagará em dobro, ou seja, a morte em porção dupla, porque também está escrito:


(17) Porque os meus olhos estão sobre todos os seus caminhos; ninguém se esconde diante de mim, nem se encobre a sua iniquidade aos meus olhos. (18) Primeiramente, pagarei em dobro a sua iniquidade e o seu pecado (...) (Jeremias 16:17-18)


A expressão "pagarei em dobro" significa a condenação da morte duas vezes: a primeira e a segunda morte. Todas estas passagens nos revelam a realidade da maldição na qual todos os homens e a humanidade foram imersos.




A Restauração de Toda as Coisas


Evidentemente, nem todos podem compreender o que significa a maldição descrita acima, e, da mesma forma, não poderão compreender o que significa a bênção. Se a maldição é a morte, a bênção é a vida, porque a Lei de Deus determina:


(19) Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, (20) amando o SENHOR, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e apegando-te a ele; pois disto depende a tua vida e a tua longevidade; para que habites na terra que o SENHOR, sob juramento, prometeu dar a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. (Deuteronômio 30:19-20)


Essas mesmas palavras foram ditas a Adão, porém em outros termos, como está escrito:


(16) E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, (17) mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Gênesis 2:16-17)


No Éden, existiam duas árvores: a da vida e a do conhecimento do bem e do mal. Deus disse que Adão não poderia comer desta última, pois se o fizesse, morreria. No entanto, se ele escolhesse a vida, comeria da Árvore da Vida. Deus nunca o proibiu de comer dela, mas sim disse: "de todas as árvores poderás comer livremente, exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal". Indiretamente, Ele estava dizendo: "escolhe a vida e a bênção", que era a Árvore da Vida. Contudo, Adão escolheu a árvore do bem e do mal, que é o mesmo que a maldição e a morte.


Assim como as palavras ditas no deserto aos israelitas ("dando ouvidos à sua voz e apegando-te a ele; pois disto depende a tua vida e a tua longevidade"), eles não deram ouvidos à voz do Senhor, mas quebraram a aliança com Deus:


"Mas eles transgrediram a aliança como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim." (Oseias 6:7 - ARA)


A desobediência a Deus é a causa da morte e do juízo, enquanto a obediência é a vida. Se Adão tivesse obedecido a Deus, não haveria morte nem maldição, mas bênção e vida. Ele recebeu um mandamento que dizia "Não comerás", mas comeu, desobedecendo à ordem do Senhor. Desde o princípio da humanidade, Deus deseja, no mais profundo do seu coração, reestabelecer o homem, convergir e recapitular todas as coisas em Si mesmo. No entanto, essa realidade nunca poderia se cumprir enquanto a mancha do pecado ainda estivesse sobre o homem.


Do mesmo modo que os homens não podiam se aproximar do Santo dos Santos — pois o véu os separava — Adão e Eva não poderiam alcançar a vida e a bênção novamente, pois o caminho do Éden agora estava fechado. O querubim, com sua espada flamejante, impedia que o homem tivesse acesso à Árvore da Vida. Não é por acaso que, no véu do santuário, havia um querubim que também separava o homem do Santo dos Santos, onde a Arca da Aliança — a maior representação do trono de Deus — simbolizava a vida que está n'Ele.


O Domínio do Maligno e a Promessa de Restauração

Quando João diz "O mundo jaz no maligno" (1 João 5:19), devemos compreender que este mundo está caído, sepultado no maligno, que é o Diabo, o príncipe deste mundo. Com suas potestades e hostes espirituais, ele domina sobre os homens. Embora o mundo e toda a sua plenitude sejam de Deus, a autoridade que no princípio foi dada a Adão foi tirada dele e entregue à serpente. Quando o diabo mostra a glória dos reinos deste mundo para Jesus, esse fato é confirmado:


(5) E, elevando-o, mostrou-lhe, num momento, todos os reinos do mundo. (6) Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. (Lucas 4:5-6)


Jesus não contesta essa fala do diabo, pois, de fato, ela era verdadeira, mesmo que a intenção do diabo fosse a mentira. Esse fato nos revela que o inimigo tem autoridade sobre os reinos do mundo. Paulo, inspirado pelo mesmo Espírito que estava em Jesus, confirma isso aos gentios que habitavam em Éfeso:


(1) Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, (2) nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; (3) entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. (Efésios 2:1-3)


Paulo diz que estávamos mortos em pecados, o que é o mesmo que dizer que estávamos debaixo da maldição. Andávamos segundo o curso deste mundo e segundo o príncipe da potestade dos ares, isto é, o diabo. Ele complementa em outro texto que nossa luta é contra estes poderes e dominadores que atuam sobre o mundo:


"porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes." (Efésios 6:12)


Compreendemos, assim, que existem forças e poderes espirituais que atuam sobre as nações e, de alguma forma, das regiões celestes, para que os homens cumpram as inclinações da carne e obedeçam ao pecado que habita em seus membros. Devemos entender que as palavras do diabo sobre sua autoridade sobre os reinos são verdadeiras. Ele, que no princípio era uma serpente, desenvolveu-se ao longo da história da humanidade, a ponto de ser descrito em Apocalipse não mais como uma serpente, mas agora como um grande dragão, poderoso e com sete cabeças.


Essas cabeças representam povos, tribos, línguas e nações, mas, mais precisamente, os impérios e reinos sobre os quais Satanás domina. Em Apocalipse 12, Deus faz um desenho de toda a autoridade que Satanás alcança em todos os tempos até o fim, e nos explica, por meio de figuras, que ele passou de uma serpente para um grande dragão. Por meio do pecado e da morte, ele estabeleceu um grande império e, a todo custo, vem, desde o princípio, pervertendo tudo o que Deus anseia por estabelecer para seus filhos.


A Redenção da Terra e o Futuro Reino

A terra foi entregue ao inimigo, o mundo foi escravizado pelo pecado e tornou-se um reino de trevas, no império da morte e da destruição. E os homens que nele habitam se tornaram filhos da desobediência para a condenação. Aquilo que era dito: "Eis que era muito bom" já não podia mais ser considerado assim; ao contrário, da bondade, passou para a maldade.


Mas a verdade é que Deus deseja refazer e restaurar aquilo que havia estabelecido desde o princípio. A promessa de tal evento está descrita no princípio da criação:


(14) Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. (15) Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. (Gênesis 3:14-15)


Quando o texto diz: "este te ferirá a cabeça", deve-se entender que o poder de Satanás será tirado, e este descendente da mulher colocará a autoridade da serpente debaixo dos seus pés. O reino de trevas que agora está estabelecido será desfeito no futuro, e todos os que participarem da autoridade que Deus deu a Cristo participarão desses dias. Um dia, a terra voltará ao Senhor, mas para isso o inimigo precisa ser tirado, pois, pelo pecado, a terra foi vendida, mas pela justiça, ela será remida. Profeticamente, a Lei demonstra isso quando Moisés escreveu:


(23) Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois para mim estrangeiros e peregrinos. (24) Portanto, em toda a terra da vossa possessão dareis resgate à terra. (Levítico 25:23-24)


Note que diz: "A terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha, pois vós sois peregrinos e estrangeiros". Este trecho deve ser interpretado no sentido de que a terra pertence ao Senhor, mas, por causa do pecado, foi vendida. No entanto, assim como no ano do jubileu a terra voltava para seu dono original, também o mundo tornará para seu dono original, que é o Senhor. Por isso, está escrito em Apocalipse:


(15) O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos. (Apocalipse 11:15)


O reino e os reinos deste mundo tornarão ao Senhor, pois o mundo e a plenitude do mundo pertencem a Ele. No entanto, Deus não desfaz da autoridade que foi entregue ao diabo e, como um cavalheiro, respeita o processo para que a causa seja ganha de forma justa e legal, para que não se diga: "O Senhor não é justo".




O Chamado de Abrão


Agora que compreendemos bênção e maldição, queda e restauração, devemos entender o plano de Deus que está prefigurado na vida do patriarca Abrão, chamado por Paulo de "pai da fé". Para entender essa realidade, é necessário compreender o que foi dito anteriormente, pois como entenderemos a restauração se não soubermos da queda, ou como discerniremos a bênção se não soubermos o que é maldição? Sendo assim, podemos prosseguir.


Abrão foi chamado de sua terra para ir até o local determinado por Deus. Pela fé, não duvidou; antes, teve Deus por fiel e como sustento em sua jornada, porque o braço de Deus o acompanhou em todo o tempo:


(8) Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. (9) Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa. (Hebreus 11:8-9)


O escritor de Hebreus associou a descrição daqueles que Deus chama de peregrinos — ao dizer que a terra não se venderá em perpetuidade — com a descrição de Abrão, que peregrinou na terra da promessa como em terra alheia. Embora Abraão tenha recebido a herança da terra e peregrinado sobre ela durante toda a sua vida, não seria naquele momento que ele a herdaria:


(2) Estêvão respondeu: (1) Varões, irmãos e pais, ouvi: o Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, (3) e lhe disse: Sai da tua terra e da tua parentela e vem para a terra que eu te mostrarei. (4) Então, saiu da terra dos caldeus e foi habitar em Harã. E dali, com a morte de seu pai, Deus o trouxe para esta terra em que agora vós habitais. (5) E não lhe deu herança nela, nem mesmo o espaço de um pé; mas prometeu que lhe daria a posse dela e, depois dele, à sua descendência, não tendo ele ainda filho. (Atos 7:2-5)


Abraão, em vida, não recebeu herança alguma, assim como seus descendentes, Isaque e Jacó. Jacó, por exemplo, morreu no Egito, e José deu ordens sobre seus ossos para que fossem conduzidos para fora do Egito, visto que ele sabia que, pela ressurreição, a promessa da entrada na terra se cumpriria. A mente de Deus projetou coisas que se desentrelaçariam profeticamente por meio do cumprimento da ressurreição. Portanto, ainda que Josué tenha introduzido o povo na terra, aquela não era a realidade completa do cumprimento, visto que a morte ainda dominava sobre os homens. Isso comprova que a herança somente seria completa na vida eterna.


O Mistério de Avram e a Missão de Abraão

É bem provável que muitos irmãos não tenham notado, mas Abrão, o nome original de Abraão, e que no hebraico devem ser lidos como “Avram” (אברם) e “Avraham” (אברהם), são traduzidos respectivamente por “pai exaltado” e, depois, por “pai de nações”. Na verdade, aqui há um grande mistério, que observaremos ao longo deste estudo.


Notemos primeiramente que Deus chama Abrão para fora de sua parentela no princípio da Lei, pois aqui diz:


O Primeiro Livro de Moisés, Gênesis 12:1-3:


“1 Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; 2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! 3 Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.”


Deus chamou Abrão para que ele fosse uma bênção, e, como já compreendemos, bênção representa a vida. Sendo assim, Abrão foi chamado para a vida, e, por meio do que Deus faria nele, as famílias da terra seriam benditas. Sim, aqui Deus promete que a vida chegaria a povos, tribos, línguas e nações, a ponto de, no aspecto mais básico das sociedades, Deus promover uma transformação: nas famílias. Abrão saiu de sua parentela e de sua residência e seguiu firme para alcançar a herança de uma descendência bendita. O objetivo de Deus sempre foi alcançar as famílias, fazer uma transformação de dentro para fora, ao ponto que Ele plantaria a semente da vida — isto é, a palavra — nos filhos. E os filhos a plantariam nos pais e nas famílias que, no passado, estavam debaixo da maldição. Agora, a vida passaria a brotar, e homens que eram casas de maldição se tornariam casas de bênção.


Por onde Abrão peregrinou, outros peregrinos também foram manifestos, porque está escrito:


(5) Levou Abrão consigo a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã; partiram para a terra de Canaã e lá chegaram. (Gênesis 12:5)


No hebraico, a expressão traduzida como "as almas que lhe acresceram" é:


וְאֶת־הַנֶּפֶשׁ אֲשֶׁר־עָשׂוּ בְחָרָן ve'et hanefesh asher-‘asú beCharan


Os antigos intérpretes judaicos, os “midrashim” dos séculos IV e V d.C, na literatura rabínica clássica, interpretavam que Abrão convertia as pessoas para a fé. Baseando-se nisso, escreveram o seguinte:


Bereshit Rabá 39:14 על הפסוק: "ואת הנפש אשר עשו בחרן" ר' עזריה בשם ר' יהודה בר' סימון אמר: אם כל בני אדם מתקבצין להחיות נפש אחת אינן יכולין, ואתה אומר "ואת הנפש אשר עשו בחרן"?! אלא אלו הגרים שגיירו. אמר ר' חונא: אברהם מגייר את האנשים, ושרה מגיירת את הנשים.


Sobre o versículo: “E as almas que fizeram em Harã” R. Azariah em nome de R. Yehudah b. Simon disse: “Se todos os seres humanos se reunissem para dar vida a uma alma, não poderiam fazê-lo — e tu dizes: ‘as almas que eles fizeram em Harã’?!” Mas isso se refere aos convertidos que eles converteram (os guerim que eles guiaram para a fé). R. Huna disse: Abraão convertia os homens e Sara convertia as mulheres.


Também os antigos “targumim” escreveram sobre esta passagem:


1. Targum Onkelos (século I–II d.C.) Aramaico: וְיָת נַפְשָׁתָא דִּקַבְלוּ עַלְיהוֹן אוֹרָיְתָא בְּחָרָן Transliteração: Ve-yat nafshata di-kablu alayhon oraita be-Charan Tradução literal: “E as almas que receberam sobre si a Torá em Harã”


2. Targum Pseudo-Jonathan (ou Targum Yonatan) Aramaico: וְיָת נַפְשָׁתָא דְּגַיְירוּן לְדַחֲלָא דַי־יָא בְּחָרָן Transliteração: ve-yat nafshata de-gayerun le-dachala d’Yaya be-Charan Tradução literal: "E as almas que eles converteram para o temor do Senhor em Harã"


Estes textos foram escritos entre os séculos I e IV d.C, em Israel e na Babilônia, durante o período do segundo templo e compreendem o período rabínico. Neste período, o judaísmo era amplamente proselitista, e, pelo exemplo de Abrão, diversos rabinos e judeus se interessavam em levar a fé monoteísta e a Torá, ou seja, a Lei de Deus, entre as nações para seguirem os passos de Abrão.


Entre os cristãos, John Wesley escreveu:


Eles levaram com eles as almas que tinham obtido – isto é, os prosélitos que tinham feito, e persuadiram a adorar o verdadeiro Deus, e ir com eles para Canaã; as almas que (como um dos rabinos expressa) eles tinham reunido sob as asas da majestade divina.


Existem diversos textos, tanto no judaísmo quanto no cristianismo, que concordam em um ponto: Abrão pregou a sua fé e, por meio dela, diversos homens e famílias se converteram, o que, na minha concepção, era apresentado como a promessa da herança de Canaã.


Devemos entender que aqui Deus já estava mostrando que Abrão passou a ser o modelo daqueles que futuramente pregariam a fé. Com efeito, as futuras gerações seguiriam os passos de Abrão, pois nós, nesta terra, somos peregrinos, e em nossas peregrinações “acrescentamos” almas, conforme também fez Abrão. E por meio de Jesus e dos apóstolos, muitos também foram acrescentados, como está escrito:


Atos dos Apóstolos 2:37-41: “37 Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? 38 Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. 39 Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar. 40 Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. 41 Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.”


Assim como por meio da pregação de Abrão almas eram acrescidas, também por meio dos apóstolos, dia a dia, almas eram acrescidas, de maneira que em Abrão e em todos aqueles que com ele se ajuntaram, percebemos a formação de uma igreja tipológica, mesmo antes da Lei dada no Sinai, com gentios que, neste contexto, eram incircuncisos. Note que o pacto da circuncisão ainda não havia se estabelecido, e Abraão, mesmo na incircuncisão, foi abençoado por Deus para que fosse comprovado que nações, povos, tribos e línguas de toda a terra seriam abençoadas, mesmo na incircuncisão da sua carne, mas circuncidadas por meio da circuncisão de seus corações.


Devemos entender que existe um propósito para Deus levantar Abrão e, principalmente, para levantar um personagem real que tem por nome “Avram” (אברם). Como vimos, Abrão tem o significado de “Pai exaltado”, e a palavra hebraica “Avram” é composta de dois termos hebraicos, sendo o primeiro “Av” (אב) e o segundo “ram” (רם). Primeiramente, devemos atentar para o termo “Av” (אב) que significa “pai”, e que é composto de duas letras, sendo a primeira a letra “alef” (א), que na antiguidade era representada por uma cabeça de boi.


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Perceba que a letra Alef (א) demonstra muita coisa por si só. Esse caractere foi inspirado nos hieróglifos egípcios e é caracterizado como uma cabeça de boi. Aqui, temos dois significados: força e autoridade. O boi representa a força e a virilidade, enquanto a cabeça simboliza a autoridade. Assim, Deus quis mostrar que o pai de família é aquele que tem a força, mas também a autoridade. A outra letra após esta é a letra Beit.



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A segunda letra, Beit (ב), no hebraico com caracteres pictográficos, era representada por uma casa ou uma tenda. Portanto, Av (אב) ou, dependendo da região, Ab, que significa "pai", traz a ideia de chefe e autoridade da tenda ou da casa. O Ancient Hebrew Lexicon of the Bible oferece a seguinte definição:


"O pictograma 'alef' representa força, o 'beit' representa a tenda. Combinados, esses símbolos significam 'a força da casa'. Isso pode se referir aos postes da tenda, que a sustentam, assim como ao pai, que sustenta a família, o lar."


Não é difícil compreender que Deus quis demonstrar que o pai é aquele que comanda a casa, que sustenta a esposa e os filhos, e que, com sua força, como um boi, protege sua tenda. Este é o motivo pelo qual Paulo diz sobre Cristo:


(22) As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; (23) porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo. (24) Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo ao seu marido. (Efésios 5:22-24)


Cristo é o Cabeça da mulher, pois, assim como Eva foi edificada como casa, também a Igreja foi edificada como casa para Deus. Logo, Cristo é como a letra Alef, isto é, a cabeça e a força, e a esposa — a Igreja — é como a letra Beit, a casa, a tenda, na qual Deus habita em Espírito.


Cristo, porém, como Filho sobre a sua própria casa, a qual casa somos nós, se tão-somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até o fim. (Hebreus 3:6)


O Significado do Termo "Ram" (רם)

Depois que compreendemos isso, podemos entender o restante da palavra, pois Avram (אברם), além de ser composto de Av (אב), também é composto de Ram (רם), que significa "ser exaltado" ou "ser elevado". A palavra é composta por duas letras hebraicas: Resh (ר), que no hebraico pictográfico é representada por uma cabeça de homem, e Mem (מ), que significa águas.



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Tanto na palavra “Av” (אב) quanto na palavra “Ram” (רם), temos letras representadas por cabeças: primeiro de boi, no Alef (א), e depois de homem, na letra Resh (ר). Podemos conectar esse fato à descrição dos seres viventes em Apocalipse:


(...)o segundo ser vivente, semelhante a novilho, o terceiro tem o rosto como de homem,(...) (Apocalipse 4:7)


O que podemos extrair do termo Abrão (אברם) é que Deus está falando de Si mesmo, ou seja, o Pai exaltado, o Alef que tem autoridade sobre a Casa, mas também é a cabeça que está sobre as águas, ou seja, as nações. Portanto, em Abrão, vemos uma imagem do próprio Deus, exaltado entre as nações, acima das águas, tanto as debaixo quanto as acima do firmamento. Já que a casa de Deus é o céu, aí está o Beit (ב). Logo, o termo hebraico אברם (Avram) significa exaltado sobre o céu e sobre o mundo.


Deus levantou um personagem já idoso e com um nome que faz referência a um pai para mostrar a Si mesmo, para que por meio de coisas visíveis pudéssemos enxergar as coisas invisíveis. Em Abrão, Deus criou uma "miniatura" de Si mesmo para que dessa miniatura procedesse uma imagem de Seu próprio Filho, o Cristo, Jesus. Por isso, está escrito sobre este filho:


(1) Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão! Este lhe respondeu: Eis-me aqui! (2) Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei. (3) Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento, tomou consigo dois dos seus servos e a Isaque, seu filho; rachou lenha para o holocausto e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado. (4) Ao terceiro dia, erguendo Abraão os olhos, viu o lugar de longe. (5) Então, disse a seus servos: Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós. (6) Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou sobre Isaque, seu filho; ele, porém, levava nas mãos o fogo e o cutelo. Assim, caminhavam ambos juntos. (Gênesis 22:1-6)


Deus criou de forma visível aquilo que, por Sua presciência, vislumbrava e determinava para o futuro. Assim como Abrão — que neste contexto já é chamado de Abraão, o que entenderemos mais adiante — foi levantado como uma imagem de Deus, no sentido figurativo, também Isaque foi levantado, gerado por Abraão, como uma miniatura e projeção do próprio Filho de Deus, Jesus o Cristo.


A Fé de Abraão e a Promessa Cumprida

Neste evento descrito no livro da Lei, temos uma descrição profética do que Jesus iria sofrer. Da mesma forma que Abraão entregou seu filho, também Deus, o Grande Pai Exaltado, entregaria seu Filho, o Verbo, para que todas as nações fossem abençoadas por meio de Sua ressurreição. Figurativamente, Abraão creu na ressurreição, porque está escrito: “Abraão, toma teu filho e oferece-o ali em holocausto”, mas também diz “Eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos”. O texto também diz: “Abraão ergueu os olhos e viu o lugar de longe, ao terceiro dia”. Portanto, ao terceiro dia, Abraão testemunhou e creu na ressurreição, pois se ele diz “voltaremos”, significa que Isaque haveria de ressuscitar para poder voltar. Assim, testifica-se que Abraão cria que Isaque, mesmo que morresse, voltaria dentre os mortos. Por isso, o escritor de Hebreus disserta sobre tal evento:


(17) Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito, aquele que acolheu alegremente as promessas, (18) a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência. (19) Porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou. (Hebreus 11:17-19)


Abraão não fraquejou diante de Deus, antes foi firme até o fim. Quando estava para sacrificar o menino, o Anjo do Senhor, o próprio Deus, bradou, dizendo a Abraão para não sacrificar o menino, visto que o seu coração foi aprovado, porque ele, pela fé, entregou seu próprio filho, mesmo sem o derramamento de sangue. O galardão de sua fé é apontado como a bênção sobre todas as nações da terra, conforme diz o Anjo do Senhor:


(15) Então, do céu bradou pela segunda vez o Anjo do SENHOR a Abraão (16) e disse: Jurei, por mim mesmo, diz o SENHOR, porquanto fizeste isso e não me negaste o teu único filho, (17) que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, (18) nela serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz. (Gênesis 22:15-18)


Na descendência de Abraão, isto é, em Isaque, ou melhor, em Cristo, todas as nações da terra seriam abençoadas. Vemos que, pelo exemplo do que Deus fez em Abraão, Ele mesmo faria em Seu Filho para que as nações, depois de abençoadas pela fé, passassem da morte — a maldição — para a vida, ou seja, a bênção.



Abraão o Pai de Numerosas Nações


Acima, vimos o ato de fé que Abrão — ou melhor, Abraão — teve quando ofereceu sobre o altar o seu próprio filho. Existe uma grande revelação sobre essa troca de nome, pois Deus quis apresentar, de forma tipológica, coisas que ocorreriam na realidade e na plenitude dos tempos. Nesse nome, estão associadas profecias grandiosas sobre o trabalho que Deus faria entre os povos, porque está escrito:


(1) Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito. (2) Farei uma aliança entre mim e ti e te multiplicarei extraordinariamente. (3) Prostrou-se Abrão, rosto em terra, e Deus lhe falou: (4) Quanto a mim, será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações. (5) Abrão já não será o teu nome, e sim Abraão; porque por pai de numerosas nações te constituí. (Gênesis 17:1-5)


Aqui chegamos ao ápice do nosso estudo, ao ponto onde todas as peças do entendimento se encaixarão. Tudo o que Deus quer cumprir nas eras que antecedem o estabelecimento do Reino e o retorno de Jesus está contido nesta mudança de nome, de Abrão para Abraão, e na promessa de que Abraão seria pai de numerosas nações.


Como eu disse acima, Deus projetou uma imagem de Si mesmo em Abraão e em Isaque, uma imagem de Seu Filho, Jesus. Por meio do ato de fé de Abraão ao entregar Isaque, Deus estava mostrando o que faria no futuro com Seu próprio Filho. Devemos lembrar que em Abraão não estão apenas testemunhados os fatos relacionados às promessas do nascimento de Isaque, mas também as promessas de que um dia Abraão herdaria a terra. Por isso, está escrito no Novo Testamento:


(13) Não foi por intermédio da lei que Abraão, ou a sua descendência, coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé. (Romanos 4:13)


Claramente, Paulo demonstra que Abraão tem a promessa de ser herdeiro do mundo, mas não apenas ele, como também sua descendência, porque sobre isso está escrito na Lei:


(14) Disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se separou dele: Ergue os olhos e olha desde onde estás, para o norte, o sul, o oriente e o ocidente; (15) porque toda esta terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre. (16) Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência. (17) Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei. (Gênesis 13:14-17)


Quando Paulo diz que Abraão e sua descendência seriam herdeiros do mundo, ele apontava para textos como este, em que Deus prometeu dar o norte, o sul, o oriente e o ocidente para Abraão e sua descendência. Em outras partes deste conteúdo das duas casas, explicamos o que isso significa. Portanto, neste momento, não entrarei em uma explicação completa, mas apenas contextualizarei o motivo pelo qual Deus prometeu dar a terra a Abraão.


O Resgate da Terra e a Autoridade de Jesus

Devemos entender que, como foi dito no início deste estudo sobre o Mistério de Abraão, após a queda do homem, Satanás recebeu autoridade sobre o mundo. Essa antiga serpente passou a dominar sobre o mundo inteiro, a ponto de ser descrita por Deus em Apocalipse como o grande dragão vermelho de sete cabeças. Já explicamos que essas cabeças representam povos, tribos, línguas e nações, sobre os quais Satanás ainda domina.


Quando observamos Abraão e compreendemos que Deus projetou uma representação de Si mesmo, devemos entender que aquilo que Ele promete a Abraão, na realidade, falava de Si mesmo. Logo, quando Deus diz que dará o mundo a Abraão, na realidade, embora o dê a Abraão, Ele, Deus, também tomará novamente o que era Seu, pois Abraão representa a Si mesmo. Portanto, este é o sentido desta promessa: Deus tirará de Satanás o que é Seu, e então a palavra do jubileu se cumprirá:


(23) Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois para mim estrangeiros e peregrinos. (24) Portanto, em toda a terra da vossa possessão dareis resgate à terra. (Levítico 25:23-24)


A terra, ainda que tenha sido vendida por meio do pecado, não permanecerá para sempre em posse do diabo. Está escrito que, no ano do jubileu, a terra tornará para o dono original, mas mediante o resgate. E sabemos que o resgate é o próprio Cristo, que, por meio de Sua justiça, pagou o preço do pecado, libertou os cativos da morte e resgatou a terra para o seu dono original, que é Deus.


Quando Deus faz a promessa da posse da terra a Abraão, Ele estava, em figuras, demonstrando que a Terra seria remida do inimigo que agora tem autoridade sobre o mundo. Este é o motivo pelo qual está escrito sobre Jesus depois da ressurreição:


(18) Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. (Mateus 28:18)


Depois da ressurreição, Jesus recebeu toda a autoridade no céu e na terra. Se Jesus é Deus, por que Ele precisava receber autoridade, sendo que Ele, com o Pai, criou todas as coisas? Pelo simples fato de compreendermos que Jesus, como Verbo, como Deus, de fato tem toda a autoridade, mas como homem, Ele não a possuía. Quando venceu a morte e o pecado, as portas do inferno não puderam retê-lo, e Ele foi liberto da morte por meio da ressurreição. Assim, a vitória foi manifesta, e a autoridade que Deus deu a Adão, e que foi tomada por Satanás, agora foi colocada sobre o Cristo, que venceu o pecado. Este, como homem glorificado, recebeu toda a autoridade, e tudo o que o diabo ainda tem lhe será tirado no futuro, porém esse tempo ainda não chegou.


Jesus é o descendente prometido para Abraão. De forma direta e indireta, as coisas que foram prometidas a Abraão e sua descendência falavam do Cristo que dele procederia, mostrando através disso que tomaria novamente aquilo que, desde o princípio, era Seu.


O que realmente quero mostrar neste ponto é que Deus tem a intenção de trazer as nações para Si, pois, como vimos, os povos e o mundo que estão debaixo do maligno estão sob a maldição, porque Deus quer o bem, e não o mal da humanidade.


A Nova Identidade: Abraão, Pai de Nações

Existe um grande segredo na mudança de nome de Abrão para Abraão, e, depois de entendê-lo, veremos esta história de outro modo. Primeiramente, devemos entender que Deus levantou um homem que tinha por nome Pai para mostrar a Si mesmo neste homem.


Deus prometeu a posse da terra a Abraão, pois estava literalmente mostrando que um dia a terra voltaria para Si mesmo, visto que Abraão era uma imagem Sua. Para isso, seria necessário que primeiro o pecado fosse tirado do mundo, visto que é por meio do pecado que o diabo tem autoridade sobre a terra. Mas, por meio de Cristo, o pecado será tirado, e assim o mundo poderá voltar a Deus. Quando Deus prometeu a terra a Abraão, Ele estava, de forma indireta, falando sobre o que faria para tomar novamente a posse da terra. Deus, em Abraão, prometia para Si mesmo, pois quando diz: “Darei esta terra a ti e à tua descendência”, na realidade, Ele está dizendo que a terra seria d'Ele novamente e de Seus filhos, aqueles que nascem segundo a promessa.


A mudança do nome de Abrão para Abraão mostra que Deus, no princípio, era um Pai Exaltado (Avram), que estava acima de todas as coisas. Contudo, depois, na plenitude dos tempos, Ele mostra o propósito de Sua vontade, que era abençoar todos os povos da terra. Quando Deus troca o nome de Abrão para Abraão, mostra que Ele mesmo seria Pai de Nações. Deus, depois de Cristo, gerou muitos filhos, procedentes de todas as nações, que pela fé são filhos de Abraão, porém foram gerados pelo Espírito. Por isso, são filhos de Deus. Deus agora não é somente Pai Exaltado, mas tornou-se Pai de Nações, de multidões de nações.

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