A Última Trombeta
- Israel Fontoura
- 9 de mar.
- 19 min de leitura
A Última Trombeta é a Ressurreição
Introdução
Vídeos para completar a Leitura
Hoje, há muitas asseverações sobre o significado da última trombeta, e muitos indoutos e incautos insistem em explaná-lo de forma totalmente equivocada. Essas afirmações acabam desviando o entendimento daqueles que estão ávidos por compreender o verdadeiro sentido do que Paulo escreveu em sua epístola.
Infelizmente, muitos irmãos sinceros estão presos a especulações e a teologias vazias, desprovidas de um entendimento profético mais profundo. Isso ocorre, em grande parte, devido à difusão da escatologia de John Nelson Darby, um dos principais idealizadores do dispensacionalismo. No entanto, neste momento, não poderei explicar detalhadamente esse ensinamento, embora seja importante compreendê-lo.
Certamente, a esperança de todos os crentes, em todas as eras, períodos e épocas, é a volta do Senhor Jesus, que virá em glória para buscar Sua amada esposa. Aquela que, dia e noite, aguarda ansiosamente o retorno do Noivo, para que Ele a introduza na grande alegria das bodas preparadas por Deus para Seu Filho.
Deus deseja libertar o homem deste mundo tenebroso, que está debaixo da maldição da morte. Todos nós, que nascemos do homem, isto é, do primeiro Adão, estamos sujeitos a essa maldição que recaiu sobre nosso pai, o pai de toda a humanidade.
No entanto, hoje nascemos por meio do Espírito para sermos semelhantes a Cristo, que um dia voltará para nos resgatar. Sabemos, porém, que o tempo desse resgate ainda não chegou. Na consumação de todas as coisas, quando o Filho retornar, todos os que fielmente O aguardarem serão resgatados da morte para a vida.
Tudo isso acontecerá ao som da grande e última trombeta, que anunciará a vinda do Filho de Deus entre as nuvens. Envolto em glória, Ele virá como ceifador para ceifar a grande seara de Deus, colher o cereal santo e guardá-lo nos depósitos do Senhor.
O tempo avança rapidamente para a grande ceifa de Deus, pois chegará o momento em que já não haverá mais tempo. Hoje é o tempo de buscar ao Senhor, pois nos foi dito: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar.” Deus abriu a porta para todos os povos, tribos, línguas e nações, para que conheçam o Senhor da Glória. E ao som dessa grande e poderosa trombeta, todos entrarão na herança e no descanso do Senhor.
A Escravidão do Homem
Desde o princípio, Deus revelou tanto as coisas eternas quanto as finais. De maneira profética e simbólica, Ele revelou o Filho, e somente por meio da revelação do Espírito os eleitos de Deus seriam capazes de discerni-Lo. Evidentemente, os incrédulos e ímpios não poderiam compreender, pois apenas aqueles que são moradas do Espírito podem entender essas verdades.
Em Gênesis, Deus criou o homem e a mulher de forma perfeita, colocando-os sob Sua bênção e concedendo-lhes acesso à árvore da vida, que certamente era uma representação do próprio Cristo e do trono de Deus. No entanto, quando a serpente induziu o homem e a mulher ao pecado, ambos, juntamente com todos os seus descendentes, passaram a estar sob a escravidão do pecado e a autoridade da morte. De fato, a morte tornou-se o destino de toda a humanidade, pois "não há homem justo sobre a terra que faça o bem e nunca peque" (Eclesiastes 7:20).
Paulo, o apóstolo, revela que essa maldição e esse cárcere serão retirados do povo de Deus por meio do seguinte texto:
1 Coríntios 15:51-52: "Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados."
Paulo recebeu da parte de Deus a sabedoria que o tornou apto a discernir que, ao som dessa última trombeta, os filhos de Deus seriam libertos da morte e resgatados do Hades. Todos os homens, salvo alguns descritos por Paulo, passarão pela morte e pelo cativeiro da corrupção, mas, por meio do evangelho de Jesus Cristo, receberam a promessa da herança da ressurreição e da vida eterna.
Contudo, nem todos os homens participarão desse evento, apenas os eleitos de Deus. Ainda que muitos tenham sido chamados, é notável que nem todos completarão a carreira da fé; pelo contrário, como um navio à deriva, naufragarão na fé.
Jesus fala desse dia e dessa trombeta com outras palavras e revela que os filhos de Deus sairão de suas sepulturas e viverão para a eternidade, pois está dito que "as portas do Hades" não prevalecerão contra sua igreja. Quando Ele afirma que as portas do inferno, ou seja, o Hades, não prevalecerão, significa que, naquele dia, elas se abrirão, pois todos os filhos e eleitos de Deus não poderão ser contidos em seu interior.
Todos foram justificados e perdoados de seus pecados e, se não há mais pecado, a morte e o inferno já não têm autoridade sobre eles. Podemos comparar isso a um homem que, injustamente, foi preso por algo que não cometeu, mas que, ao ter sua inocência comprovada pela justiça, é libertado do cárcere. As portas e grades já não podem contê-lo, pois nele não há culpa alguma. Assim será com os filhos de Deus, que, isentos de culpa, sairão das portas da morte, pois está escrito:
João 5:28-29: "Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo."
Assim também se cumprirão as palavras do profeta Daniel, que, milênios antes da ressurreição, recebeu a revelação de Deus de que, naquele dia, todos os que estão escritos no Livro ressuscitarão:
Daniel 12:2: "Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno."
Todos estes, em uma só revelação e mediante um só Espírito, falaram de um mesmo evento, de um mesmo momento: a ressurreição. Aqui está a última trombeta, o momento em que as promessas de Deus se cumprirão, e os filhos de Deus serão manifestos em glória. Para possuírem o Reino que lhes foi prometido, passarão deste reino tenebroso para o Reino de Luz, sem morte, sem dor, e participarão da alegria do Senhor, que aguarda ansiosamente pela manifestação de seus filhos. Assim, todos estaremos em abundância de vida para a vida eterna. Tudo isso se cumprirá ao som da última trombeta, a trombeta da vida, que será tocada para revelar o Filho de Deus no fim dos dias.
Tudo aquilo que se iniciou com a queda terminará com o retorno de Jesus, e a prisão da morte chegará ao fim para aqueles que creram no Filho de Deus, aguardaram Sua vinda e amaram Sua salvação. Todos estes voltarão para sua família, mas não falo da família segundo a carne, mas segundo a filiação em Deus. Porque aqueles que hoje creem tornam-se a família bendita do Senhor, filhos e filhas de Deus:
Epístola de Paulo aos Efésios 2:18-19: "18 porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. 19 Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus."
Mas enquanto estamos revestidos desta carne, que na verdade é nossa prisão, não pode ser manifesta nossa glória, visto que Deus não tem prazer na carne, pelo menos não na que agora possuímos. Jesus ressuscitou em carne, mas devemos entender que não foi a carne do pecado, mas sim a carne gloriosa, pois já não está mais sujeita à morte. Seremos semelhantes ao Filho de Deus, se estivermos, é claro, vestidos e não nus, com nossas vergonhas manifestas.
Pela queda veio a escravidão; fomos vendidos à escravidão do pecado, e todos os homens foram levados cativos para a morte. A sepultura devorou os homens; aqueles, porém, que aguardam a manifestação do Filho de Deus receberam a promessa de um dia serem libertos desta prisão, pois em Oséias está escrito:
(Oséias 13:14) "Eu os remirei do poder do inferno e os resgatarei da morte; onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua destruição? Meus olhos não veem em mim arrependimento algum."
O Libertador Virá e Introduzirá no Descanso
Quando Deus diz que libertará Seu povo, Ele usa uma palavra hebraica específica: גָּאַל (ga’al), que é utilizada para os parentes redentores, aqueles que pagavam as dívidas ou se casavam com as viúvas para que elas não ficassem desamparadas.
O go'el (גֹּאֵל) era o parente redentor que tinha o dever de resgatar um familiar da escravidão ou restaurar suas terras caso ele tivesse perdido sua herança. No Ano do Jubileu, esse resgate se tornava obrigatório e universal, pois a própria lei determinava que:
(Levítico 25:10) "E santificareis o quinquagésimo ano e proclamareis liberdade na terra a todos os seus moradores; ano de Jubileu vos será, e tornareis cada um à sua possessão, e cada um à sua família."
No assunto específico sobre a libertação da morte Cristo é o Go’el, o libertador, porque não lei, na sombra da realidade, Deus deixava alegorias específicas e todas estas alegorias falavam sobre o Cristo, lembrando que ele mesmo confirma que a profecia da libertação cumpria-se nele, conforme está escrito:
O Evangelho segundo Lucas 4:18-21: “18 O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, 19 e apregoar o ano aceitável do Senhor. 20 Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele. 21 Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.”
Jesus é aquele que proclamaria a libertação aos cativos, e Isaías claramente apresenta a figura do go'el, aquele que anunciava a libertação da escravidão do povo no Ano do Jubileu. Estava escrito que a libertação seria proclamada a todos os moradores da terra, e é por isso que Jesus declarou: "Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir."
Com essa afirmação, Jesus estava mostrando que a libertação dos cativos já estava sendo proclamada. O evangelho anunciado é essa proclamação, pois está escrito: "Pelo que me ungiu para evangelizar os pobres." Logo depois, acrescenta: "Enviou-me para proclamar a libertação aos cativos."
Devemos compreender que partes dessa profecia se cumpriram quando Jesus esteve entre os homens, mas outras ainda se cumprirão no fim.
Quando Ele diz que evangelizou os pobres, isso se cumpre em Seus dias e também nos dias de hoje, pois Jesus, por meio dos apóstolos e discípulos, continua anunciando o evangelho aos homens. Porém, quando declara: “Proclamar a libertação aos cativos e apregoar o ano aceitável do Senhor”, isso claramente aponta para o fim, pois será o cumprimento do grande Jubileu, quando os cativos serão definitivamente libertos.
Muitos não percebem que a leitura do texto de Isaías trata da ressurreição, e o Espírito revela em outros momentos que esse mesmo Libertador, que foi ungido, tiraria os presos e os chamaria para fora do cárcere, conforme está escrito:
(Isaías 42:6-7) “Eu, o SENHOR, te chamei em justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei mediador da aliança com o povo e luz para os gentios; para abrires os olhos aos cegos, para tirares da prisão o cativo e do cárcere, os que jazem em trevas.”
E ainda acrescenta:
Isaías 49:9: “9 para dizeres aos presos: Saí, e aos que estão em trevas: Aparecei. Eles pastarão nos caminhos e em todos os altos desnudos terão o seu pasto.”
Devemos entender que aqui ocorre a concretização daquilo que está escrito: os mortos ressuscitarão. Como vimos anteriormente, a morte é uma prisão, mas aqueles que creram nas palavras de Jesus e no evangelho da promessa serão libertos dessa prisão eterna. Por isso, está escrito: "E para os que estão em trevas: aparecei", e também: "Para tirares da prisão o cativo e do cárcere, os que jazem em trevas."
Deus utiliza uma linguagem metafórica para se referir àqueles que hoje estão no cárcere da morte. No entanto, Jesus é aquele que removerá Seu povo da morte e os trará para a luz, pois naquele dia as portas da morte não terão mais poder sobre aqueles que agora estão retidos em seu interior.
Portanto, quando está escrito: "Para proclamar a libertação aos cativos", vemos aqui a última trombeta e a palavra do grande Go’el, o Libertador, para que então se cumpra o que foi dito:
(João 5:28) "Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão."
Jesus proclamará a libertação, e os que são de Cristo ressuscitarão. Por meio do Resgatador, que é o próprio Cristo, terão acesso à vida eterna, juntamente com Abraão, Isaque e Jacó, na herança prometida.
Paulo, por meio da revelação do Espírito, ensina que haverá uma ressurreição e que, nessa ressurreição, Jesus descerá dos céus e trará consigo aqueles que mantiveram firmes a confissão e o testemunho até o fim. Esse mistério é chamado de a última trombeta.
Devemos lembrar que, na Bíblia, "mistério" significa um segredo ou um enigma. Logo, a última trombeta é um enigma, um mistério da parte de Deus, mas não um mistério não revelado e sim um mistério revelado, apontado desde o princípio por meio de Moisés no Livro da Lei.
Sabemos que os filhos de Deus serão introduzidos no descanso, mas isso só poderá ocorrer após a ressurreição se concretizar. Quando está escrito: "Proclamar a libertação", significa que os homens sairão do cativeiro da morte e da escravidão do pecado. Então, a sentença: "Tu és pó e ao pó tornarás" já não terá mais efeito sobre os ressuscitados. Da mesma forma, a maldição: "No suor do teu rosto comerás o teu pão" deixará de existir, pois eles não precisarão mais se afadigar pelo seu sustento.
Portanto, nisso se cumpre o que está escrito:
(Gênesis 2:2-3) "E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera."
Quando falamos do sábado, devemos compreender que ele representa a herança que aguarda os santos do Senhor. Pelo pecado, veio a escravidão, mas Deus preparou o descanso para aqueles que vencem o pecado e, depois de libertos da morte, entram nesse descanso.
Por isso, Jesus disse: "O sábado foi criado por causa do homem, e não o homem por causa do sábado." O significado dessa afirmação é que, com a queda, entraram no mundo a fadiga e o suor. O sábado foi dado para que o homem, depois de labutar sob a escravidão do pecado, pudesse descansar.
No entanto, devemos entender que, mesmo descansando uma vez por semana, o homem ainda permanecia no pecado, pois continuava debaixo da morte e dependente do pão da terra e do suor do rosto para se sustentar.
Por isso, este dia, o dia do Senhor com d minúsculo, não é o verdadeiro Dia do Senhor com D maiúsculo. Nesse dia, os homens, os filhos de Deus, só poderão descansar de fato de suas fadigas se forem dignos de alcançar a ressurreição, pois o Senhor preparou um Reino de Alegrias para Seus servos.
Enquanto existir carne, Deus não terá Sua alegria completa, visto que a carne não pode agradar a Deus. De fato, Deus não se cansa, mas Se alegra; portanto, os homens cessarão suas fadigas, mas Deus Se alegrará em Seus filhos naquele dia.
É verdade que Deus trabalha, mas o foco de Seu trabalho é a raça humana. Assim como o mundo foi criado em seis dias, também a nova criação, na qual os filhos da ressurreição serão revelados, será manifesta após o cumprimento dos seis dias milenares.
A morte é a maldição, e a bênção é a vida. Na realidade, quando o pecado entrou no mundo, a maldição também entrou. Porém, quando diz: "Deus abençoou o sétimo dia", significa que ali está a vida, e que o cumprimento do que foi dito a Abraão terá sua conclusão. Pois foi dito: "Em ti e na tua descendência serão benditas todas as nações da terra". Assim, Deus mostrava antecipadamente que este dia foi abençoado, pois nele estarão os filhos benditos de Abraão, e todos, ao toque da última e grande trombeta, ressuscitarão para entrar no descanso e na herança do Senhor.
O Ano Aceitável do Senhor
Depois que todas as coisas forem consumadas e o Filho de Deus revelar Sua glória, então se dará o tempo da liberdade, descrito na Lei como o Ano do Jubileu. Nesse tempo, os escravos eram libertos, as dívidas eram pagas e havia liberdade por toda a terra. Por isso, em Isaías, é dito que Jesus seria o pregador da libertação e das boas-novas aos pobres, pois deles é o Reino dos Céus.
Devemos entender que este é o grande evento, o mais esperado pelos homens que estavam em escravidão. Assim como hoje somos escravos deste mundo na carne e no corpo, mas não na mente e no espírito, aguardando a libertação que Jesus efetuará, também os pobres e escravos da antiguidade ansiavam pelo dia da sua liberdade. Havia remissão para toda a terra, e todos se alegravam na grande libertação do Senhor. Da mesma forma, nós igualmente aguardamos nosso Redentor, que inaugurará o grande Jubileu, o ano aceitável do Senhor.
Todo o discernimento que Paulo recebeu por meio do Espírito está embasado no contexto do Ano do Jubileu. No entanto, não percebemos isso explicitamente em suas cartas, mas sim de forma implícita. Quando juntamos as palavras de Paulo e dos demais apóstolos, podemos compreender esse fato, pois o apóstolo escreveu o seguinte:
Epístola de Paulo aos Romanos 8:19-23:
“19 A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. 20 Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, 21 na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. 22 Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. 23 E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.”
No texto acima, o apóstolo fala sobre a remissão do cativeiro da corrupção e, em seguida, menciona a liberdade da glória dos filhos de Deus. No final, ele afirma: “a redenção do nosso corpo”.
Perceba que, em todo esse contexto, ele está falando sobre libertação. No entanto, não se trata de uma libertação qualquer, mas da redenção do nosso corpo. Isso ocorre porque os filhos de Deus não podem ser plenamente manifestos enquanto estiverem presos a este corpo de pecado.
Essa libertação significa sermos livres dessa carapaça de carne, para que o corpo imortal seja manifestado. Quando Paulo fala sobre sermos redimidos do cativeiro da corrupção, ele está se referindo à libertação definitiva da humanidade da morte, para que agora possamos viver eternamente.
No texto de Romanos acima, não encontramos explicitamente o termo "Ano do Jubileu", e as digressões de Paulo podem dificultar o entendimento completo. A soma dos contextos torna-se desafiadora, mas, para o leitor mais atento, as conexões aqui descritas ficarão mais evidentes, pois o Espírito ministrará entendimento àqueles que se dedicarem à leitura.
Agora, imagine o momento da vinda de Jesus, quando todos os filhos de Deus — aqueles que, pela fé, foram justificados — serão manifestos. Isso significa que seus corpos mortais serão desfeitos, para que a morte não tenha mais domínio sobre eles.
Devemos compreender que o Hades — termo grego usado para descrever o lugar dos mortos, equivalente ao hebraico Sheol, com o mesmo significado — é descrito na Bíblia como um local temporário onde os mortos aguardam: uns para a condenação e outros para a vida eterna. No entanto, todos estão em uma prisão, um cárcere invisível.
A diferença é que aqueles que forem remidos pelo Go’el terão suas dívidas pagas. Sabemos que a dívida é o pecado, e todos os que estão no pecado estão em dívida com a morte. Quando Cristo, por não ter pecado, foi libertado da morte — visto que suas portas e correntes não puderam retê-lo —, Ele a venceu pela obediência, pois não havia nenhuma dívida que o ligasse a ela.
Primeiramente, a cabeça ressuscitou dentre os mortos; porém, depois, o corpo será tirado de entre os mortos, pois a cabeça não pode ressuscitar sem o corpo. Da mesma forma, podemos entender que, quando a mulher dá à luz a um homem, a cabeça do bebê nasce primeiro, mas, depois, sai o restante do corpo, formando todo o filho. Jesus foi manifesto primeiro como a cabeça; porém, depois, o corpo será manifesto pela ressurreição, e assim todos os filhos de Deus serão revelados – e isso acontecerá na última trombeta.
Quando Paulo fala que a criação geme até o tempo da revelação da glória dos filhos de Deus, devemos entender que ele se refere ao contexto em que a última trombeta será tocada e os filhos de Deus serão manifestos. Isso ocorrerá porque o grande e último Jubileu será revelado, cumprindo o que está escrito:
Levítico 25:10 – “Santificareis o ano quinquagésimo e proclamareis liberdade na terra a todos os seus moradores; ano de jubileu vos será, e tornareis, cada um à sua herança, e cada um à sua família.”
Neste ponto, quando se diz que cada um tornará para sua herança, deve-se entender que Deus está revelando o cumprimento das promessas feitas a Abraão, no sentido de que seus filhos receberiam a posse da herança. E quando se diz que cada um tornará para sua família, deve-se compreender que todos os que forem manifestos pela ressurreição serão reunidos de uma só vez com sua verdadeira família – não a família segundo Adão, mas a família segundo Deus. Abraão e Sara se reunirão com todos os filhos que vierem de todas as nações e forem manifestos por meio da ressurreição, para que se cumpram as palavras de Cristo:
Mateus 8:11 – “Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.”
Esses que virão de todas as partes são os filhos de Abraão, espalhados por todo o mundo, e, pelo toque da última trombeta, serão introduzidos no Reino de Deus. Dessa forma, cumpre-se o texto: “Tornareis cada um para sua família.”
A Última Trombeta
Agora que compreendemos todas essas coisas, precisamos entender onde elas estão reveladas, pois não foi aleatoriamente que Paulo enxergou a última trombeta, mas um mistério lhe foi revelado. Como sabemos, aquilo que está escrito no Antigo Testamento deve ser compreendido como a revelação daquilo que se manifesta no Novo. Portanto, segundo os profetas, está escrito:
Isaías 27:12-13 – "Naquele dia, em que o SENHOR debulhará o seu cereal desde o Eufrates até ao ribeiro do Egito; e vós, ó filhos de Israel, sereis colhidos um a um. Naquele dia, se tocará uma grande trombeta, e os que andavam perdidos pela terra da Assíria e os que foram desterrados para a terra do Egito tornarão a vir e adorarão ao SENHOR no monte santo em Jerusalém."
Deus prometeu que naquele dia uma grande trombeta será tocada, e os do Egito e os da Assíria seriam debulhados como cereal. Quando se fala da Assíria, refere-se ao norte, e quando se fala do Egito, refere-se ao sul. Portanto, Deus está declarando que os filhos que estão no norte e os filhos que estão no sul tornarão à sua herança, assim como Jesus disse: “Muitos virão do Oriente e do Ocidente.” Norte, sul, oriente e ocidente formam os quatro cantos da terra. Assim, Deus está mostrando que homens espalhados pelos quatro cantos do mundo serão chamados e reunidos naquele tempo, no tempo em que a grande trombeta será tocada.
Paulo falou sobre isso ao escrever:
1 Coríntios 15:51-52 – "Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados."
Aqueles que foram fiéis ao Senhor, mas hoje se encontram espalhados pelos quatro cantos da terra – muitos já descansando –, no toque da última trombeta serão despertados e recolhidos de todos os lugares. A terra dará à luz aqueles que morreram e, pela perseverança, permaneceram fiéis ao Senhor. Tudo isso Paulo chama de "mistério", porque também está escrito:
Isaías 26:19 – "Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho de vida, e a terra dará à luz os seus mortos."
Nesse dia, esse grande mistério será cumprido, pois essa última trombeta é um mistério que foi encoberto para muitos, mas não para os filhos de Deus. Todos aqueles que têm esperança na ressurreição, direta ou indiretamente, aguardam o cumprimento desse mistério, que João, no Apocalipse, revela para confirmar a palavra proferida por Paulo:
Apocalipse 10:5-7 – "Então, o anjo que vi em pé sobre o mar e sobre a terra levantou a mão direita para o céu e jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos, o mesmo que criou o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles existe: Já não haverá demora, mas, nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas."
Aqui está a resposta ao que Paulo disse, pois é declarado que, no toque da sétima trombeta, o mistério de Deus será cumprido. Isso não é coincidência, pois essa trombeta é precisamente o mistério mencionado por Paulo, e, ao toque da sétima trombeta, ele se realizará. Esse mistério é a ressurreição, razão pela qual Paulo afirma: "Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, porém transformados seremos todos." Como vimos, essa transformação é a redenção do nosso corpo, a manifestação da glória dos filhos de Deus. Seremos libertos do nosso corpo de escravidão – este é o mistério proclamado por Paulo, que se cumprirá ao toque da sétima trombeta, a última mencionada em Apocalipse.
Todas essas conexões estão apontadas nos profetas, e o anjo de Apocalipse, no capítulo décimo, na realidade, é uma teofania do próprio Jesus Cristo. Podemos observar algumas características que evidenciam sua divindade: rosto iluminado, pernas como colunas de fogo, envolto em uma nuvem e um arco-íris, entre outros elementos. Esse anjo é a representação do próprio Cristo que apareceu para João e revela que, no toque da sétima trombeta, o mistério de Deus estará cumprido — tudo o que foi falado pelos profetas e apóstolos. No entanto, muito antes disso, a Lei já demonstrava que, no ano do Jubileu, a última trombeta deveria ser tocada nos tempos determinados de Deus, para que então houvesse a santificação do quinquagésimo ano, conforme está escrito:
(Levítico 25:8-10) "Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos. Então, no mês sétimo, aos dez dias do mês, farás soar a trombeta vibrante; no Dia da Expiação, fareis passar a trombeta por toda a vossa terra. Santificareis o ano quinquagésimo e proclamareis liberdade na terra a todos os seus moradores; ano de jubileu vos será, e tornareis, cada um à sua possessão, e cada um à sua família."
Observe que, no ano quarenta e nove, ao décimo dia do mês, era tocada uma grande trombeta que percorria toda a terra, abrangendo os quatro cantos. Então, haveria a libertação concedida pelo Senhor: os escravos seriam libertos, os homens retornariam à sua herança, e todos voltariam para suas famílias. Como vimos acima, tudo isso apontava para a realidade da ressurreição, portanto, não há necessidade de repetir a explicação. Na Lei, esta era a última trombeta — não haveria mais nenhuma outra naquele ano. Essa trombeta seria tocada após quarenta e nove anos de incontáveis toques de trombetas. Contudo, no décimo dia do sétimo mês, a figura do Go'el (redentor) proclamaria a libertação, retiraria os escravos para a liberdade e conduziria o povo à sua herança. As terras que haviam sido compradas poderiam ser remidas e devolvidas ao seu dono original, pois está escrito:
(Levítico 25:23-24) "Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois para mim estrangeiros e peregrinos. Portanto, em toda a terra da vossa possessão dareis resgate à terra."
Ora, a terra pertence ao Senhor. No entanto, por causa do pecado, Satanás recebeu autoridade sobre a terra, e as potestades e príncipes dominadores que estão nos lugares celestiais exercem domínio sobre este mundo. Mas, quando chegar o verdadeiro ano do Jubileu, ao toque da última trombeta, a terra que foi vendida por causa do pecado retornará ao seu dono original, que a remirá. Então, toda a terra e os reinos do mundo pertencerão novamente ao Senhor, pois está escrito:
(Apocalipse 11:15-17) "O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos. E os vinte e quatro anciãos, que se encontram sentados no seu trono diante de Deus, prostraram-se sobre o seu rosto e adoraram a Deus, dizendo: Graças te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e passaste a reinar."
Sim, esta é a última trombeta, aquela que trará o Reino de Deus, pois está escrito: "Os reinos do mundo se tornaram do Senhor e do seu Cristo." Aqui, a Igreja, os filhos do Senhor, tomarão posse da herança da terra, que pertence ao Senhor. Ele estabelecerá o Reino eterno e destruirá todas as potestades de Satanás. Por isso está escrito: "Assumiste teu grande poder e passaste a reinar." Brevemente, estaremos com o Senhor, e com Ele reinaremos!
Comments