top of page

Purim, Hanucá e os 1335 dias - Parte 1



Introdução


Os 1.335 dias mencionados em Daniel são um mistério que, há muitos anos, teólogos, pastores e estudiosos têm tentado compreender. No entanto, ainda não há um consenso definitivo quanto ao seu verdadeiro significado. Neste artigo, proponho uma abordagem que pode ampliar nossa compreensão sobre esse tema.

Muitos irmãos têm uma visão limitada dos eventos descritos tanto no Apocalipse quanto no próprio livro de Daniel. Isso se deve, em parte, ao fato de conhecerem apenas as sete festas estabelecidas na Lei de Deus — a Torá. Contudo, percebo que falta uma peça importante nesse quebra-cabeça: as duas festas registradas no livro de Ester e na história dos Macabeus. O próprio evangelho de João menciona Jesus andando no templo no contexto de uma dessas festas. Por isso, é fundamental entender que essas informações são cruciais para a interpretação profética de Daniel. Este estudo, portanto, buscará associar os eventos descritos no livro de Daniel com as festas de Purim e Hanucá.


Purim – A Revelação dos Forasteiros Entre as Nações


Para muitos, Purim é apenas uma comemoração relatada no livro de Ester. No entanto, essa festa carrega revelações significativas sobre os tempos do fim. Ainda que o livro de Ester não seja escatológico, é possível perceber nele sombras proféticas. O mesmo espírito que atuava em Hamã estará presente, nos últimos dias, nos aliados da besta e na própria besta.


Ester, por sua vez, apresenta alegorias que apontam para Cristo e a Igreja. O rei, no relato, representa Cristo; e Ester representa Sua noiva. Ela figura a Jerusalém celestial, que se purifica para encontrar seu Amado. Entre muitas jovens, ela foi a escolhida — assim como Jesus escolheu Sua Igreja: virgem, pura e sem mácula. É importante observar que o nome original de Ester era Hadassa:


(Ester 2:7) Ele (Mardoqueu) criara Hadassa, que é Ester, filha de seu tio, pois não tinha pai nem mãe. A jovem era atraente e de boa aparência, e Mardoqueu a tomara por filha, quando seu pai e sua mãe morreram.


Hadassa é um nome hebraico. Por estar entre os persas, ela passou a ser chamada pelo nome persa Ester. O mesmo ocorreu com Daniel e seus amigos na Babilônia:


(Daniel 1:6-7) (6) Estavam entre eles, dos filhos de Judá: Daniel, Hananias, Misael e Azarias; (7) o chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes: a Daniel, o de Beltessazar; a Hananias, o de Sadraque; a Misael, o de Mesaque; e a Azarias, o de Abede-Nego.

Também com José no Egito vemos esse padrão:


(Gênesis 41:45) Faraó chamou a José de Zafenate-Paneia e deu-lhe por mulher a Asenate, filha de Potífera, sacerdote de Om. E José foi por toda a terra do Egito.

Esses exemplos revelam uma característica comum: hebreus vivendo na Diáspora, recebendo nomes estrangeiros, mas mantendo sua identidade diante de Deus. José foi separado de sua terra e levado ao Egito; Daniel, levado cativo a Babilônia; Ester, nascida entre os persas. Mesmo assim, todos permaneceram fiéis a Deus.


Essa realidade aponta para algo espiritual: nós, gentios, vivemos entre as nações e não seguimos seus costumes pecaminosos. Em espírito, somos o Israel de Deus, ainda que tenhamos nascido fora da Jerusalém terrena. Aguardamos o dia em que seremos levados à nossa pátria celestial — a Jerusalém do alto. Fomos chamados com nomes segundo o mundo, mas na revelação receberemos novos nomes dados por Deus.


O apóstolo Paulo esclarece essa verdade:


(Efésios 2:11-13, 19) (11) Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, (12) naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. (13) Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. (…) (19) Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus.



Assim como Hadassa diante dos homens se chamava Ester, mas diante de Deus era chamada Hadassa, que significa “murta”, pois Deus quis neste nome revelar que ela era o cumprimento da festa dos tabernáculos, que justamente fala da celebração das bodas do Cordeiro, pois está escrito:


(Neemias 8:14-15) “(14) Acharam escrito na Lei que o SENHOR ordenara por intermédio de Moisés que os filhos de Israel habitassem em cabanas durante a festa do sétimo mês; (15) que publicassem e fizessem passar pregão por todas as suas cidades e em Jerusalém, dizendo: Saí ao monte e trazei ramos de oliveiras, ramos de zambujeiros, ramos de murtas (Hadassa), ramos de palmeiras e ramos de árvores frondosas, para fazer cabanas, como está escrito.”


Na expressão “ramos de murtas” podemos observar no original hebraico que era a raiz do nome Hadassa: הדס (Hadas), ou seja, tipologicamente Ester, em oculto, estava trazendo em figuras a festa dos tabernáculos, do mesmo modo que Daniel mostra o juízo de Deus e José o acréscimo de Manassés e Efraim às doze tribos. Logo, devemos entender que dentre os gentios virão os ramos de murtas e árvores frondosas, pois dentre as nações sairá parte do povo de Deus, assim como dentre os judeus crentes em Jesus. Por isso está escrito sobre o final dos tempos:


(Apocalipse 7:9) “(9) Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos;”


Podemos ver no texto acima pessoas de todos os povos, tribos, línguas e nações que, em suas mãos, carregam palmas, isto é, folhas de palmeiras. Segundo a Lei, havia uma determinação de que na festa das cabanas ramos de árvores frondosas fossem levados diante de Deus, conforme está escrito:


(Levítico 23:40) “(40) No primeiro dia, tomareis para vós frutos de árvores formosas, ramos de palmeiras, galhos de árvores frondosas e salgueiros de ribeiras, e vos alegrareis perante o SENHOR vosso Deus por sete dias.”


Claramente Deus está mostrando que esses gentios estão sendo tirados dentre todas as nações para agora serem participantes da realidade da festa dos tabernáculos. Porém, como Ester, eram participantes da diáspora espiritual que todos nós participamos. Hoje temos nomes gentios, pois, como Ester, nascemos nesta diáspora espiritual e aguardamos até o tempo em que seremos tomados dentre as nações para sermos levados até a herança que, como habitação, nos foi prometida.


Pedro, compreendendo estas coisas, entendeu que estamos na diáspora, também chamada dispersão:


(1 Pedro 1:1-3) “(1) Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, (2) eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas. (3) Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,”


Todos nós, como Ester, nascemos fora da nossa habitação, da nossa pátria celestial. Aguardamos, todavia, o momento em que Jesus, o nosso Sumo Sacerdote, nos buscará e, assim, celebraremos com Ele o grande banquete preparado para aqueles que vencem a batalha contra o grande vilão dos homens e de Deus.


Hamã, o Grande Vilão do Povo de Deus


Como lemos acima, o livro de Ester traz diversas alusões a eventos que nós hoje vivemos e viveremos, pois estamos na dispersão, porque o povo de Deus está espalhado por todo o mundo. O império de Assuero traz para nós uma figura do mundo todo, e suas províncias representações de povos, tribos e nações onde este povo, a Igreja de Deus, estaria inserida. Nas províncias do império Persa havia diversas nações subjugadas, porém com línguas e dialetos próprios. Assim também hoje a Igreja do Senhor, o Israel de Deus, está espalhada em diversos países e nações — países estes que possuem línguas, dialetos e leis próprias.


O império Persa, neste contexto, era um dos mais poderosos da terra, sendo que sua extensão territorial abrangia desde a Índia até a África, dividido em cento e vinte e sete províncias, e havia judeus espalhados por todas essas províncias. Lembrando que muitos destes nasceram nessas localidades. Devemos lembrar que algumas gerações já haviam se passado desde a deportação de Jerusalém e, nesse contexto, milhares de judeus haviam nascido fora de Israel. Muitos nem sabiam falar o hebraico, tendo se tornado participantes de muitos costumes gentios.


Imagine que Deus está nos mostrando nestas cento e vinte e sete províncias uma imagem do mundo todo, e que o império Persa, no seu total, representasse o próprio mundo. Logo, devemos entender que, para os nossos dias, representa a Igreja do Senhor espalhada por todo o mundo, como se essas cento e vinte e sete províncias representassem todos os países do mundo, povos, tribos, línguas e nações.


Certamente me faltará tempo para escrever e revelar os significados da rainha, esposa de Assuero, ser mandada embora e também sua desobediência, ainda que isso seja muito importante. Todavia, falaremos disso em outro momento.


Depois de Ester ser eleita diante de inúmeras mulheres, Hamã, um perverso oficial do rei, se levanta contra o povo de Deus. A hostilidade de Hamã contra os judeus, narrada no livro de Ester, não foi apenas fruto de uma ofensa pessoal, mas enraizada em antigas rivalidades e em seu próprio orgulho ferido. Hamã, um alto oficial do rei Assuero (Xerxes I), era descrito como “o agagita”, título que o associava ao antigo rei Agague dos amalequitas — povo inimigo histórico de Israel (cf. 1 Samuel 15:8). Essa ligação sugere que seu ódio pelos judeus podia ter raízes étnicas e políticas mais profundas.


O estopim imediato, porém, foi um ato de desobediência por parte de um judeu: Mardoqueu. Quando o rei Assuero exaltou Hamã e ordenou que todos se prostrassem diante dele, Mardoqueu recusou-se a fazê-lo. O texto diz:


(Ester 3:2) “(2) Todos os servos do rei que estavam à porta do rei se inclinavam e se prostravam diante de Hamã, porque assim o tinha ordenado o rei a respeito dele; porém Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava.”


Essa recusa enfureceu Hamã:


(Ester 3:5-6) “(5) Vendo, pois, Hamã que Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava diante dele, encheu-se de furor. (6) Porém teve em pouco o lançar mão só contra Mardoqueu, porque lhe haviam declarado de que povo era Mardoqueu; Hamã procurou destruir todos os judeus, o povo de Mardoqueu, em todo o reino de Assuero.”


Assim, o orgulho ferido de Hamã se transformou em uma tentativa de genocídio. Ele convenceu o rei Assuero a emitir um decreto contra todos os judeus:


(Ester 3:8-9) “(8) Então disse Hamã ao rei Assuero: Existe espalhado e separado entre os povos em todas as províncias do teu reino um povo cujas leis são diferentes das de todos os outros povos, e que não cumpre as leis do rei; pelo que não convém ao rei tolerá-lo. [...] (9) Seja decretado que se os destruam.”


Dessa forma, o desprezo pessoal de Hamã por Mardoqueu evoluiu para um plano de aniquilação total de todo o povo judeu. As Escrituras mostram que Hamã era “filho de Hamedata, o agagita” (Ester 3:1). Esse título conecta Hamã ao rei Agague, líder dos amalequitas, povo que desde o êxodo do Egito se mostrou inimigo ferrenho de Israel.


(Êxodo 17:8) “Então veio Amaleque, e pelejou contra Israel em Refidim.”


Essa batalha marcou o início de um ódio persistente. O próprio Senhor declarou guerra perpétua contra Amaleque:


(Êxodo 17:16) “O Senhor guerreará contra Amaleque de geração em geração.”


Mais tarde, Deus ordena por meio de Moisés que Israel, ao se estabelecer na terra prometida, deveria apagar completamente a memória de Amaleque:


(Deuteronômio 25:17-19) “(17) Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saías do Egito [...]. (19) Portanto, quando o Senhor teu Deus te houver dado descanso [...] apagarás a memória de Amaleque de debaixo do céu; não te esqueças.”


Séculos depois, o rei Saul recebe essa ordem específica de Deus por meio do profeta Samuel:


(1 Samuel 15:3) “Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que tiver [...]”


Saul, porém, desobedeceu e poupou a vida de Agague, o rei dos amalequitas:


(1 Samuel 15:8) “E tomou vivo Agague, rei dos amalequitas, porém a todo o povo destruiu ao fio da espada.”


Essa desobediência custou o reino a Saul e permitiu que descendentes de Agague sobrevivessem. Hamã, o agagita, é visto por muitos estudiosos como descendente daquele mesmo rei poupado por Saul. Assim, seu ódio por Mardoqueu pode ser lido também como uma vingança ancestral: uma reedição do conflito entre Israel e Amaleque.


Mas a raiz ainda é mais profunda. Amaleque era neto de Esaú, irmão de Jacó:


(Gênesis 36:12) “E Timna foi concubina de Elifaz, filho de Esaú; ela deu à luz Amaleque.”


Esaú é o patriarca de Edom, nação frequentemente hostil a Israel (cf. Obadias 1:10). O conflito entre Esaú e Jacó, iniciado ainda no ventre (cf. Gênesis 25:22-23), ressurge em diversos momentos da história bíblica — e culmina em Hamã, o agagita, descendente de Esaú, tentando destruir os filhos de Jacó.


Portanto, a oposição de Hamã aos judeus carrega séculos de conflito espiritual e étnico. Ele não representa apenas um homem vingativo, mas sim a continuidade da guerra entre o povo de Deus e seus antigos inimigos.


Mardoqueu, o orgulho de Hamã e o decreto de morte contra os judeus


O livro de Ester nos apresenta um dos momentos mais sombrios da história do povo judeu: a tentativa de extermínio em massa decretada por influência de um homem poderoso, dominado pelo orgulho e pelo ódio. Esse homem era Hamã, filho de Hamedata, o agagita — um título que carrega o peso histórico de antigos inimigos de Israel, descendente dos amalequitas, povo que Deus havia amaldiçoado por se levantar contra os israelitas desde o tempo do Êxodo (Êxodo 17:8-16; Deuteronômio 25:17-19).


Mardoqueu, um judeu exilado que servia como oficial no palácio do rei Assuero, se recusa a se prostrar diante de Hamã, promovido pelo rei a uma posição de grande honra. A ordem era clara:


(Ester 3:1-2) “(1) Depois dessas coisas engrandeceu o rei Assuero a Hamã, filho de Hamedata, o agagita, e o exaltou, e pôs o seu assento acima de todos os príncipes que estavam com ele. (2) Todos os servos do rei que estavam à porta do rei se inclinavam e se prostravam diante de Hamã, porque assim o tinha ordenado o rei a respeito dele; porém Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava.”


A recusa de Mardoqueu não era uma mera rebeldia política. Os judeus, seguindo os princípios da Lei de Deus, não adoravam a homens nem se prostravam diante deles como forma de reverência espiritual. Essa postura de fidelidade aos princípios da fé contrastava com a arrogância e o desejo de glória pessoal de Hamã.

O decreto de Hamã e a fidelidade de Mardoqueu


(5) Vendo, pois, Hamã que Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava diante dele, encheu-se de furor.

(Ester 3:5)


Hamã, porém, não queria apenas punir Mardoqueu, mas destruir todo o seu povo:


(6) Teve em pouco o lançar mão só contra Mardoqueu, porque lhe haviam declarado de que povo ele era; Hamã procurou destruir todos os judeus, o povo de Mardoqueu, em todo o reino de Assuero.

(Ester 3:6)


Para realizar seu plano, Hamã usou de astúcia e manipulação. Foi ao rei e apresentou os judeus como um povo perigoso, desleal e com leis próprias, alegando que representavam uma ameaça à estabilidade do império:


(8) Então disse Hamã ao rei Assuero: Existe espalhado e separado entre os povos em todas as províncias do teu reino um povo cujas leis são diferentes das de todos os outros povos, e que não cumpre as leis do rei; pelo que não convém ao rei tolerá-lo.

(9) Se bem parecer ao rei, decrete-se que sejam mortos; e eu porei nas mãos dos que fizerem a obra dez mil talentos de prata, para que entrem nos tesouros do rei.

(Ester 3:8-9)


O rei, sem investigar quem eram esses “rebeldes”, deu a Hamã autoridade plena para agir:


(10) Então tirou o rei o anel da sua mão e o deu a Hamã, filho de Hamedata, o agagita, inimigo dos judeus.

(Ester 3:10)


Hamã então redigiu o decreto: em um dia determinado, todos os judeus — homens, mulheres e crianças — seriam mortos em todas as províncias do império persa. Uma sentença de morte contra um povo inteiro, motivada apenas pelo orgulho ferido de um homem e pela fidelidade de outro.


(12) Escreveram-se, pois, as cartas em nome do rei Assuero, e selaram-se com o anel do rei; enviaram-se pelos correios a todas as províncias do rei, para que se destruíssem, matassem e fizessem perecer a todos os judeus, desde o jovem até o velho, crianças e mulheres, em um mesmo dia [...], e que se saqueassem os seus bens.

(Ester 3:12-13)


A cidade de Susã ficou em confusão. O decreto causou espanto, lamento e grande temor entre os judeus. O plano de Hamã não era apenas um ataque físico, mas uma tentativa de anular o povo que carregava as promessas feitas por Deus a Abraão, Isaque e Jacó. Contudo, mesmo que oculto no texto, o Senhor já estava agindo por meio de Mardoqueu e da rainha Ester para frustrar esse plano.


Esse episódio mostra como o orgulho humano e a fidelidade a Deus podem entrar em choque. Mardoqueu permaneceu firme, mesmo diante da ameaça de morte. Já Hamã, consumido pela vaidade e desejo de vingança, torna-se símbolo daqueles que se levantam contra o povo de Deus — e que, inevitavelmente, são derrubados pelo juízo divino.


Ao longo da história bíblica, vemos diversos momentos em que servos de Deus são confrontados com decretos humanos que desafiam sua fidelidade ao Senhor. Dois episódios se destacam pelo contraste direto entre autoridade humana e submissão a Deus: o caso de Hamã, no livro de Ester, e o decreto de Nabucodonosor, no livro de Daniel.


(2) Todos os servos do rei que estavam à porta do rei se inclinavam e se prostravam diante de Hamã, porque assim tinha ordenado o rei a seu respeito; porém Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava.

(Ester 3:2)


Hamã representa aqui o político vaidoso que exige reverência não apenas à sua posição, mas à sua pessoa. Mardoqueu, judeu fiel, recusa-se a se curvar — não por rebeldia civil, mas por princípio espiritual. A honra que pertence a Deus não pode ser dada a homens. Sua recusa silenciosa acendeu a fúria de Hamã, levando ao decreto genocida contra todos os judeus.


Neste relato, vemos a tensão entre poder humano e consciência espiritual. Deus, embora não mencionado explicitamente no livro de Ester, age nos bastidores, conduzindo os eventos para a salvação do Seu povo.


Em Daniel capítulo 3, encontramos situação semelhante, mas com contornos ainda mais explícitos de idolatria. O rei Nabucodonosor ordena que todos adorem uma imagem de ouro:


(5) No momento em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música, prostrai-vos e adorai a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou.

(6) Qualquer que não se prostrar e não a adorar será, no mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente.

(Daniel 3:5-6)


Diante da ordem, três jovens judeus — Sadraque, Mesaque e Abede-Nego — recusam-se a se curvar. Desta vez, a fidelidade ao Senhor os leva diretamente à fornalha. Mas, no auge da perseguição, o milagre acontece:


(25) Eis que vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante ao de um filho dos deuses.

(27) E, ajuntando-se os sátrapas, os prefeitos, os governadores e os conselheiros do rei, viram que o fogo não teve poder algum sobre os corpos desses homens; nem um só cabelo da sua cabeça se queimou, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro de fogo passara sobre eles.

(Daniel 3:25, 27)


Aqui, Deus se manifesta de forma visível e poderosa, demonstrando que nenhuma autoridade terrena pode suplantar Seu domínio.

Talvez você não tenha percebido, mas esses dois eventos — o decreto de Hamã e a imposição da adoração à estátua de Nabucodonosor — revelam uma figura escatológica dos eventos descritos em Apocalipse. Hamã determinou a morte de todos os judeus pelo fato de não se prostrarem diante dele. Da mesma forma, anos antes, Nabucodonosor decretou que todos os que não se prostrassem diante de sua imagem seriam mortos. Todo o império foi convocado para a adoração:


(7) Portanto, quando todos os povos ouviram o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério e de toda sorte de música, prostraram-se os povos, nações e homens de todas as línguas e adoraram a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor tinha levantado.

(Daniel 3:7)


Como vimos, o império de Assuero representa, figurativamente, o mundo, e suas cento e vinte e sete províncias representam os países e nações. De forma semelhante, o império de Nabucodonosor representa todas as nações da terra. A narrativa apresenta o mundo subjugado a um único imperador, sob a imposição de uma adoração forçada à imagem erguida por ele.


A estátua de Nabucodonosor é descrita assim:


(1) O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro, que tinha sessenta côvados de altura e seis de largura; levantou-a no campo de Dura, na província da Babilônia.

(Daniel 3:1)


As medidas — sessenta por seis — apontam para uma simbologia próxima ao número seiscentos e sessenta e seis, em oposição ao número de perfeição, como setenta vezes sete. Ainda que veladamente, Deus já estava mostrando em figura o número da besta, indicando o padrão do sistema do fim nos dias de Daniel. A adoração não era opcional. Quem se recusasse seria lançado na fornalha ardente. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego resistiram e foram perseguidos por sua fidelidade a Deus. Tornaram-se símbolo de perseverança e de resistência à idolatria imposta pelo sistema babilônico.


No livro de Apocalipse, capítulo 13, João descreve um cenário semelhante. Uma besta surge, recebe autoridade e uma imagem é erguida em sua honra:


(15) E foi-lhe concedido que desse fôlego à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse e fizesse morrer todos os que não adorassem a imagem da besta.

(Apocalipse 13:15)


Assim como na antiga Babilônia, temos aqui um sistema que exige adoração à imagem e impõe a morte àqueles que se recusarem. Além da perseguição espiritual, há uma imposição econômica, relacionada à marca da besta:


(17) Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver a marca, ou o nome da besta, ou o número do seu nome.

(Apocalipse 13:17)


Essa marca é descrita como 666:


(18) Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta, porque é número de homem; e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.

(Apocalipse 13:18)


Tanto em Daniel quanto em Apocalipse vemos a presença marcante do número 6:


• Estátua de Nabucodonosor: 60 côvados de altura por 6 de largura

• Marca da besta: 666 — três vezes o número seis


Na simbologia bíblica, o número 7 representa perfeição e completude divina. Já o número 6 representa o homem — criado no sexto dia — e simboliza imperfeição, incompletude e rebelião contra Deus. Quando triplicado (666), o número expressa a plenitude da imperfeição: uma rebelião humana organizada e total contra o Criador.


Portanto, a marca da besta e a estátua de Nabucodonosor compartilham o mesmo padrão: estão associadas ao número 6, envolvem adoração forçada a uma imagem e se opõem ao Deus verdadeiro. No centro de ambas as narrativas está a exigência de fidelidade — ou à imagem do sistema mundano, ou ao Deus eterno.


O que os três jovens hebreus enfrentaram na Babilônia prefigura a escolha que será exigida nos últimos dias. A Bíblia nos alerta que o sistema do fim buscará instaurar uma adoração global unificada, onde a desobediência aos decretos humanos será vista como traição, sujeita a punição.


A fidelidade de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego nos mostra que Deus honra aqueles que permanecem firmes, mesmo diante da morte. De forma semelhante, o livro de Apocalipse também descreve os que vencem a besta e sua imagem: “Estes são os que não se contaminaram... seguem o Cordeiro para onde quer que vá... e em sua boca não se achou engano.” (Apocalipse 14:4-5)


A marca da besta, a imagem adorada no fim dos tempos e a estátua de Nabucodonosor são representações proféticas de um conflito espiritual entre o Reino de Deus e os reinos humanos. Ambos os episódios envolvem o número 6, uma imagem de adoração e a tentativa de substituir o culto ao Deus verdadeiro por um culto falso, forçado e institucionalizado.


Entender esse paralelo não é apenas uma questão teológica, mas uma advertência prática: precisamos decidir hoje a quem vamos servir. A pressão para adorar o sistema deste mundo já começou e só tende a se intensificar. O exemplo dos fiéis do passado nos encoraja a permanecer firmes diante do fogo — pois o quarto Homem ainda caminha conosco na fornalha.


Hamã: A Figura do Grande Perseguidor da Igreja


Esses paralelos foram perfeitamente construídos por Deus para que tivéssemos, nas Escrituras, uma base espiritual que nos preparasse para entender, em forma de figuras, os acontecimentos do tempo do fim. Assim como encontramos prefigurações de Cristo em muitos personagens bíblicos, também encontramos figuras do anticristo em personagens perversos que perseguiram o povo de Deus.


No livro do Apocalipse, lemos sobre esse homem do pecado que se levantará nos últimos dias:


(1) Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças, e sobre os chifres, dez diademas, e sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. (2) A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade. (3) Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta. (4) E adoraram o dragão, porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela? (5) Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses. (6) E abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para difamar o seu nome e o seu tabernáculo, a saber, os que habitam no céu. (7) Foi-lhe permitido pelejar contra os santos e vencê-los; e deu-se-lhe autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação. (8) E adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.

(Apocalipse 13:1-8)


Esse texto revela que um grande poder se levantará no fim dos tempos e exigirá adoração dos habitantes da Terra. Por meio dessa adoração, as pessoas terão acesso a um sistema econômico ainda por se manifestar. Um detalhe que chama atenção é a autoridade que será dada à besta sobre "cada tribo, povo, língua e nação" — expressão que também aparece nos relatos sobre Hamã e Nabucodonosor.


No livro de Daniel, Nabucodonosor convoca todas as nações subjugadas ao seu império para se prostrarem diante da estátua de ouro. No livro de Ester, Hamã envia ordens às cento e vinte e sete províncias do império persa, ordenando o extermínio dos judeus. Em ambas as figuras vemos um padrão: uma autoridade central impõe a obediência absoluta sobre muitos povos e nações.


Na realidade futura, a besta exercerá domínio global e todos os que aceitarem sua autoridade se rebelarão contra Deus. Contudo, assim como Sadraque, Mesaque, Abede-Nego e Mardoqueu não se prostraram diante da imagem e da autoridade dos ímpios, também haverá um povo fiel que resistirá até o fim. (Continua...)

Comments


© CANAL O REINO DE DEUS 2024

bottom of page